domingo, 22 de julho de 2012

Livro didático, minorias e religiosidade



A educação infantil no Brasil sempre foi permeada pelo racismo e a discriminação, tendo o livro didático, como instrumento sutil, que às vezes aparece com a imagem da raça negra de forma cômica e simpática, mas sempre inferiorizando os negros e negras nas funções menos relevantes do ponto de vista dos saberes, da cultura, da arte, da intelectualidade e o sócio econômico. É uma sutileza que termina expondo um racismo, minimizando as pessoas pela cor, por ela ser negra e com isso tenta apresentá-la como uma raça inferior. “O racismo ainda existe”, o que nos lembra pesquisa sobre preconceito na escola onde o racismo no Ceará foi também muito fortemente apontado (PETiT e SILVA, 2003), com numerosas alusões ao negro como sujo e sujeito a todo tipo de agressões.
Há ainda nesse preconceito, a questão com as religiões de matrizes africana e afro-brasileira que em vez de apresentá-la dentro da sua espiritualidade, buscam sempre demonizá-las e estigmatizar as pessoas que frequentam e quando são filhos ou filhas de pai ou mãe de santo e estão na escola, são tratados/as pelos outros alunos/as, como macumbeiros/as e essas crianças sofrem muito, por serem xingadas pela estigmatização sobre a religião dos pais, o que caracteriza intolerância religiosa. As diferentes gradações de manifestação racista no que diz respeito ao ódio físico ao negro, cometidas por pessoas quaisquer ou especifica­mente por evangélicos refletem a virulência dos ataques que se confundem com a prática da intolerância religiosa: desde o xingamento negro fresco/carvão/tição, passando por agressões físicas (bate negro daqui), ao preconceito atropelo (causando a morte) e o preconceito na paz (par­ticularmente insidioso porque se refere a apedrejamento do candomblecista em ambiente aparentemente sereno).(AFRICANIDADES CAUCAIENSES: SABERES, CONCEITOS E SENTIMENTOS - ASPECTOS DAS RELIGIOSIDADES AFRO-BRASILEIRAS EM CAUCAIA: UMBANDA E CANDOMBLÉ)
Os livros didáticos e a própria escola, tentam ignorar essa realidade, que é grave, talvez, até porque os dirigentes das escolas e professores/as não foram preparadas/os para lhe dá com esse assunto. Por isso, a educação religiosa é muito complexa, por não ser estudada, nem orientada sobre o sentido da palavra região na sua dimensão maior que é o encontro com o supremo, em que todas as religiões buscam. O livro AFRICANIDADES CAUCAIENSES: SABERES, CONCEITOS E SENTIMENTOS, no texto UMA HISTÓRIA RELIGIOSA DA NAÇÃO AFRICANA: SOCIOPOETIZANDO O PRECONCEITO RELIGIOSO COM CRIANÇAS CANDOMBLECISTAS DE CAUCAIA-CE de autoria de JOENE MENDONÇA DE FREITAS • MARCELO MARQUES DA SILVA • SANDRA HAYDÉE PETIT, veja p que diz esse trecho: ...as crianças apontam o total desconhecimento das pessoas, a profunda ignorância e o tremendo desrespeito quanto às dimensões sagradas e espirituais dos símbolos, rituais e elementos da natureza que fazem parte dos cultos. Os cantos, toques e danças são particularmente visados, em total desconsidera­ção ao seu caráter de comunicação com o divino, não sendo aceitos como expressões de uma profissão de fé. Enfim, toda e qualquer cosmovisão africana é atingida e junto com ela, toda a negritude, numa associação perversa e maléfica com o mal, o que vem reforçando a necessidade desses aspectos serem confrontados juntos em todos os espaços educacionais, uma vez que sem auto—afirmação negra não se entende a importância da religiosidade africana e sem compreensão da religiosidade de matriz africana não é pos­sível uma apropriação e valorização efetiva da cultura afro­descendente, como tão bem o demonstram nossos/a co—pesquisadores/a, sem papa na língua e com a sabedoria e força de intuição próprias às crianças.  Enquanto não acontece esse aprofundamento para orientação na educação religiosa, cada um que tem a sua, quer se fechar dentro dela, como a única.
Os livros de história apresentam o Brasil com apartheid racial, de forma cruel e desumana, como se o negro fosse escravo pela incapacidade intelecto de se desenvolver como Ser e não por ter sido escravizado de forma forçada e sem direito a escola, saúde, lazer e até de desenvolver sua cultura e religiosidade. Dessa forma percebe-se que os livros didáticos e até os de historinhas infantis mascaram a realidade, em não dizerem que lhes faltou oportunidades, como: o direito a terra, a escolaridade e uma situação econômica digna pra se viver, durante e após a escravidão. Os estudiosos consultados não acreditam no Brasil como o país da boa convivência religiosa, essa seria apenas mais uma falácia que se aproxima à da democra­cia racial, pois ambas são negações da realidade cruel que demoniza, ainda no século XXI, negros e religiões afro. (Africanidades Caucaienses: Saberes, Conceitos e Sentimentos – Joene, Marcelo e Petit).
Como consequência dessa discriminação, é que o próprio negro mesmo expondo sua pele, prefere dizer que é moreno, pardo, chocolate, mulato, mulata como uma forma de sobreviver nesse mundo racista, e, em particular no Brasil. O Ceará mesmo sendo o primeiro Estado a abolir a escravatura, já teve um período governamental que através de decreto, dizia que essa terra não tem negro, assim também, como não tem índio. Essa é uma história que não chega no livro didático, porque ele sempre apresenta a classe branca europeia e americana como perfeita, a única capaz de governar e decidir o destino do país e do povo.
Ainda em relação às minorias, podemos trazer a questão do índio relacionado à cultura, espiritualidade, costumes onde quase não aparece nos livros didáticos, por preferirem falar que os índios não aceitaram a escravidão devido serem preguiçosos, em vez de dizerem que são povos livres, que convivem com a natureza e vivem dela numa relação de harmonia e crenças tendo a terra como mãe a que pare a vida e alimenta a todos e o pai tupã que lhes traz energias supremas para resistir às guerras e promover a paz.
Portanto, em se tratando de livro didático, é necessário que haja produções literárias comprometidas com o resgate histórico da essência nua e crua do povo brasileiro, com sua cultura, religiosidade, costumes sem impor a europeização e americanização, como tem sido até então, com o intuito de inculturar, pra dominar com outra cultura. Cabe aí à escola se apropriar dessa discussão para elevar o conhecimento.
Amém, aleluia, axé, oxalá.

Leonardo Sampaio
22/07/2012

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