segunda-feira, 1 de julho de 2013

As manifestações de ruas e a mídia

As manifestações de ruas em Fortaleza desde o dia 19/06/13 me fizeram observar que as matérias de televisão e jornais vêm discriminando e criminalizando o movimento de rua, taxando-o como vândalo, tanto nos noticiários como nos programas da “bala e sangue”. Passam horas mostrando imagens da revolta popular contra todas as formas de desrespeito aos seus direitos. Os jornais impressos trazem nas manchetes fotos e matérias mostrando fogo e violência, como se tudo fosse vandalismo.
Esse tipo de comunicação, não quer apresentar a realidade que está presente nas manifestações, a partir das diversas formas que os manifestantes veem o mundo, como por exemplo, a filosofia do anárquico, que quando é atacada nas ruas, tem seu jeito de protestar contra o Estado e a mídia que os tratam como pessoas anormais e os discriminam, não aceitam o seu jeito de ser.
Essa mídia não percebe que o manifestante da rua está na escola, ou passou por ela, adquiriu consciência crítica e consegue fazer uma leitura de mundo, razão pela qual quando ele queima ou apedreja é simbolizando o protesto contra o que dizem dele, ou como os tratam. Não são vândalos, mas protestos de jovens que estudam, tem criticidade, filosofia de vida, detestam o Estado e querem ser livre dele. Livres desse Estado burguês que o oprimem com todas suas instituições. Livres do consumo capitalista. Livres das estruturas que os reprimem. Portanto, não há vândalos e sim pessoas com protestos contra o Estado (Executivo, Legislativo, Judiciário) e a mídia extremamente incorporados à corrupção.
Dessa forma entende-se que o jeito de queimar das manifestações de ruas, pode ser um protesto ilegal, porém legitimo. Queima-se a péssima qualidade dos serviços, inclusive da mídia.
O que li, escrito por parte desses jovens, não é simples pichações e sim murais onde expressam suas indignações e filosofia de vida e de ler o mundo.
É preciso entender que o que está sendo queimado nos protestos, não é um simples ataque aos carros dos meios de comunicação, mas à péssima qualidade dos programas de televisão que apresentam as pessoas da periferia como gente “do mal”, com sangue e bala pra todo lado. Essa imagem é apresentada em televisões e jornais mostrando a pobreza como degradação humana e lixo da sociedade, como se todos fossem marginais. Então, o que está sendo queimado da mídia nas manifestações, são os estereótipos das periferias, com sua programação de sangue, bala e miséria humana. Essa juventude quer o reconhecimento das suas qualidades, dos seus valores, da sua potencialidade, são pessoas que acreditam num outro mundo possível.
A simbologia dos manifestantes de rua quando viram e apedrejam um ônibus, não é um simples ato de vandalismo como estão tratando e sim à revolta dos usuários, pela péssima qualidade do transporte coletivo. No entanto, a sociedade um tanto quanto hipócrita, acha que não é essa a forma, só que todas as outras já foram tentadas pelas organizações populares, como não tem resposta satisfatória, o radicalismo das ruas vai a extremidade possível, mostrar a necessidade de mudanças.
É esse o diferencial que a mídia não trás a análise e levam à criminalização, enquanto que Estado apresenta como solução a repressão, estão aí às contradições da luta de classes que chegaram às ruas.  

Leonardo Sampaio
Educador