domingo, 18 de janeiro de 2015

Mulheres guerreias construtoras da história



Leonardo Sampaio

Para falar sobre mulher, ressalto as condutoras de histórias das lutas populares que transformam vidas e conduzem à humanização, como Maria, personagem bíblica migrante, em busca de abrigo para parir o filho, devido a perseguição política do Rei Herodes, a mulher que contesta o poder opressor e conclama todos a transformar aquela realidade de injustiça social: “Derruba do trono os poderosas e eleva os humildes” (Lc 1.52) a mesma, morou na África vivendo no Egito, e conheceu a história de quarenta anos de luta de Moisés e sua irmã Mirian para libertar os escravos, andando como nômade, em busca da “terra prometida”, uma espécie de quilombo. Falar de Maria é entender uma mulher que viu o filho como preso político, sendo torturado até a morte e não recuar, estando sempre ao seu lado afirmando o projeto de um reino de justiça, amor e, sobre tudo, de liberdade, do corpo e do espírito para que todos possam viver com plenitude. “ Eu vim para que todos tenham vida” (João 10:10). É a mulher que conheceu a história dos profetas de antes, denunciando as injustiças e anunciando a vinda do Messias pra salvar a humanidade.
São tantas as mulheres guerreiras, que não caberia neste espaço destacá-las, porque elas se apresentam em diversas frentes de lutas transformadoras da realidade, a exemplo de Anita Garibaldi, que participou de guerras no Brasil e na Itália ao lado do marido, como Maria Bonita no cangaço ao lado de Lampião, como Olga Benário, judia que foi entregue aos nazistas, como Bárbara de Alencar, que lutou no movimento abolicionista, pelo fim da escravidão no Brasil, como Dandara, que lutou no Quilombo dos Palmares ao lado de seu companheiro Zumbi, como Chiquinha Gonzaga, que na vida de artista enfrentou o machismo, o preconceito e defendeu o fim do escravismo, como Margarida Alves, que como camponesa e sindicalista enfrentou o latifúndio, Irmã Doroti, que como religiosa defendeu o meio ambiente contra o desmatamento da Amazônia, Irmã Filomena, que, como freira, esteve ao lado dos agricultores no Maranhão, defendendo a reforma agrária, Rosa Luxemburgo líder política, filósofa e uma das principais revolucionárias marxistas do século XIX, dentre outras.
Mulheres camponesas, negras e indígenas, quebradeiras de coco, descascadoras de macaxeira, catadeiras de algodão e feijão, que enfrentam o sol ardente ou a chuva,  formando coro com a oralidade de cantigas populares em momentos de trabalho desvendando suas culturas ancestrais, indígenas e africanas, fazendo a circularidade com as danças de coco, ciranda e capoeira, ou a espiritualidade indígena com o Torem, pisando o chão como símbolo de gratidão à Mãe Terra, por parir a vida e alimentar o corpo.
Falo também sobre as mulheres de religiões de matrizes africana, as Mães de Santo, que invocam os orixás, seus deuses, pra confortar a vida a partir da natureza, do alimento e do sacrifício pra libertar-se.
As mulheres poetas, escritoras que trazem em suas escritas a inspiração da mulher mãe que se torna cuidadora, ocupando todas as dimensões de carinhos, conforto, ternura e necessidades pessoais dos(as) filhos(as). Há também as mães que vendem o corpo como profissão, como trabalhadoras, utilizando a sexualidade pra sustentação da vida e as tornam felizes.
As professoras, que transmitem o conhecimento e absorvem o saber de cada aluno ou aluna trazidos do seio da família, ou das ruas, nos ambientes coletivos, esportivos, culturais, religiosos ou até da marginalidade o que tornam essas mulheres não mais só professoras, mas parte da família, como tias e educadoras.
Não posso deixar de fora as feministas que lutam em defesa de direitos iguais; das mulheres negras que lutam por dignidade, enfrentando o racismo e o preconceito, mesmo trazendo na pele, no cabelo e no corpo a beleza do ser negra; as rezadeiras (curandeiras ou benzedeiras) que trazem da ancestralidade africana, o poder da mediunidade e o uso das plantas para afastar doenças nas pessoas; das que fazem parte da política nas casas legisladoras; as executoras de gestões públicas que buscam sensibilizar por um poder de Estado humanizado; as feministas lésbicas que lutam contra o preconceito, a discriminação e o direito de amar e viverem sua sexualidade livres.
É assim meu olhar e compreensão pro papel da mulher na sociedade, em que todas as Marias, Rosas, Lúcias, Luzias, Célias, Veras, Anas, Ângelas, Sandras, Fátimas, Francinetes, Artemizas, Dranciscas, Marinas, Elianes e outras que cumprem missões de ternura e construção de uma sociedade justa e fraterna em que o amor constrói a paz.

Maria, Maria, é um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta. ( Milton Nascimento e Fernando Brant).

Nenhum comentário: